Área protegida é ocupada por religiosos

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Conhecidos por fazerem da Área de Proteção Ambiental (APA) do Parque  do Abaeté o “Monte Sinai” de Salvador, grupos neopentecostais passaram a montar barracas de lona sobre as dunas, na avenida Dorival Caymmi, para cumprir  “propósitos com Deus”.

A prática de se instalar no areal, no entanto, pode estar com os dias contados, segundo informou o presidente da Universidade Livre das Dunas (Unidunas), Jorge Santana.

O gestor do Parque das Dunas assegura que a remoção das instalações deve ocorrer ainda esta semana, devido à devastação.

À sombra de uma árvore, no lado oposto à Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrígola (EBDA), oito barracas “hospedam” os que passam dias, semanas e até mesmo meses em retiro espiritual naquele solo, tido como um “santuário” para os evangélicos.

Como em uma espécie de universo paralelo, fiéis de várias congregações se reúnem no local com o único propósito de adorar Jesus. Alheios ao vai e vem do trânsito morro abaixo, os religiosos buscam no contato direto com a natureza a paz necessária para entoar orações em dialetos pouco usuais aos incautos.

Prostração

Joelhos ao chão, cabeça também, alguns vestidos de branco, mais parecem beduínos em uma duna do deserto do Saara louvando o profeta Maomé. É o caso do sapateiro Edvan dos Santos, 34 anos, que está no local há dois meses para alcançar um propósito – o qual alega não poder revelar.

Morador do bairro do Pero Vaz, não tão perto dali, Edvan argumenta que os frequentadores das barracas não fazem morada no local, mas estão ali para alcançar objetivos. “Esse é um local que consideramos sagrado, onde podemos falar diretamente com Deus”, ele afirma, com largo sorriso.

A apóstola Valdelice Maria, frequentadora do Ministério Casa da Aliança com Deus, em Vila de Abrantes (Camaçari, Grande Salvador) assegura que as barracas não são uma “invasão”.

“Quem tem um propósito, passa alguns dias aqui, assim como o profeta Moisés fez ao subir no monte”, afirma a mulher, ao reiterar que há pessoas que chegam a passar um semestre em vigília no retiro espiritual.

Lixo

Aos olhos de quem passa pela região, a prática de orar sobre as dunas parece inofensiva, mas o gestor do Parque das Dunas explica que a fixação das barracas acarreta problemas ambientais.

O consumo de alimentos no areal, e por consequência a produção de lixo, é um dos problemas apontados pelo presidente da Universidade Livre das Dunas.

Apesar da afirmação, os fiéis sustentam que coletam todo o lixo produzido nas vigílias religiosas no alto da duna.

Ainda assim, rebate Santana, a fixação no solo das estruturas em que os religiosos se alojam afeta a sustentação do areal, além de ameaçar a vegetação e o habitat dos animais.

“A gente não proíbe o ato de orar, mas aquela é uma área do parque que o zoneamento não permite tais instalações”, afirmou Jorge Santana, que diz querer providenciar  a remoção das barracas esta semana.

Como alternativa, ele conta que se reunirá com lideranças religiosas para viabilizar a construção de uma estrutura ao sopé do morro. “Inclusive com banheiros. Para que não precisem levar nada lá para cima”, diz o gestor do parque há 22 anos.

Fonte: A Tarde

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