Carta de uma coruja buraqueira

Compartilhe:

Escrever uma carta para os seres humanos é algo raro. Muito raro! Por isso mesmo, não quero perder a oportunidade de me apresentar. Muito prazer, eu sou a Mãe Coruja, daquelas que habitam buracos no meio da areia. Minhas plumas estão ouriçadas de alegria! Não é todo dia que recebo permissão para desenhar palavras. Uma pena que esta ocasião não permite fazer uma prosa longa, gostosa e descontraída.

Hoje estou aqui para fazer um apelo…

…Não antes de falar sobre a vida das corujas! Nós, as buraqueiras, estamos espalhadas por todos os cantos. Não vivemos em grupos imensos, mas sim em pequenas famílias. Eu e meu companheiro vivemos nas dunas, dedicando as nossas vidas na criação dos nossos oito filhotes. Eles ainda são clarinhos, redondos e desengonçados. Quem me dera eles ficassem sempre assim… Sei que um dia eles irão crescer e partir para uma jornada sem volta. Enquanto este dia não chega, eu fico ali horas a fio a procura de insetos suculentos ou, quem sabe, um saboroso roedor!

Infelizmente, as coisas estão cada vez mais difíceis para nós corujas. É que estamos perdendo cada vez mais território. Hoje em dia, não existe terra, areia ou mato seguro que nos sirva de morada. Do alto, enxergo apenas o mar de cimento das construções humanas. Se as coisas continuarem assim, nós corujas estaremos fadadas à morte e ao abandono dos nossos lares.

Apesar de ser o nosso predador, tenho percebido, com o balançar das minhas grandes asas, a luta do bicho homem para nos proteger! Um passarinho me contou que o grande mar de areia branca deixou de ser invadido. Virou no que vocês chamam de área de preservação ambiental! Que bom que eu tive a sorte de fazer a minha casinha num matinho em meio às dunas, bem perto da lagoa. Graças a vocês a minha família vive tranquila!

Mas… Como nem tudo são roedores, tenho observado alguns humanos invadindo ilegalmente as nossas terras e devastando a nossa mata. Estou com medo de ser forçada a abandonar o meu lar. Medo mesmo é de ver a minha família sufocando de baixo da areia! Tenho sonhado com isso há dias. Corujas buraqueiras também sonham, sabia?

Por isso mesmo, humanos, escrevo esta carta. Uma vez me disseram que a melhor de todas as lutas é aquela realizada com uma boa conversa. Sendo assim, a minha humilde casa está de buracos abertos, ou melhor, de portas abertas! Venham nos visitar! A APA Lagoa e Dunas do Abaeté está de portas abertas para todos os amantes da natureza.

Protejam o grande mar de Dunas! Protejam a nossa casa! As corujas buraqueiras depositam as suas esperanças em cada um de vocês!

PS. Não se esqueçam de trazer um viscoso e suculento inseto!!

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *