Já faz um bom tempo que não atualizo a minha coluna, mas acho que agora tenho bons motivos, e daqui pra frente tentarei mantê-la toda segunda-feira. O motivo do meu retorno é que há seis meses iniciaram-se as obras de requalificação da orla de Itapuã, mas com a chegada do verão a continuidade da intervenção tem se tornado cada vez mais complicada e lenta, devido a falta de fiscalização da utilização dos espaços públicos. Como idealizador do ItapuãCity, e participante da comissão que elaborou o projeto de reforma da orla desejado pela comunidade, sinto-me com o dever de expor o meu ponto de vista sobre alguns pontos dessa novela.
Faltando pouco menos de um mês para a realização da tradicional lavagem de Itapuã, que comemora 110 anos, foram retirados os tapumes que isolavam as obras de requalificação da orla, com a finalidade de ceder espaço para as estruturas do evento. Porém a falta de fiscalização fez com que toda a região das obras fosse transformada em estacionamento nos sábados e domingos.
Mesmo com a degradação de todo o serviço que foi realizado durante a semana, o destaque fica por conta do lixo acumulado no local, resultado da soma entre desordenamento do comércio informal no local e parte da população sem consciência, fato que precisamos mudar urgente.
Na região da sereia, o trânsito dos pedestres no calçadão é quase impossível! A disputa por espaço entre ciclistas, pedestres e comerciantes é enorme. Na Praça Dorival Caymmi a situação é a mesma. Sabemos da necessidade desses comerciantes, não podemos pensar em simplesmente retirá-los do seu “local de trabalho”, mas é preciso que haja ordenamento e regularização.
Toda essa falta de organização é resultado do “mexe-mexe” no projeto que já tinha sido aprovado. À princípio, teríamos um projeto totalmente voltado a valorização cultural e histórica de Itapuã. Em matérias publicadas aqui no ItapuãCity temos todas as partes dessa caminhada, que envolveu a comunidade e os orgãos municipais, porém o lado comercial falou mais alto nas negociações, mesmo depois de já terem apresentado o projeto que seria executado para a comunidade.
O que isso quer dizer? Antes teríamos quadras, pistas de skate, mirantes, praça para rodas de capoeira, memorial de Dorival Caymmi e muito mais. Agora, teremos o que podemos chamar de um “corredor etílico à beira-mar”, que não beneficia a comunidade em n-a-d-a. Serão mais de 20 quiosques, antes seriam no máximo oito. E o Língua de Prata, que faz parte da história do bairro, como fica nessa história? Ele sairia do projeto por “motivos culturais”, mas pra dar lugar a mais vinte e poucos quiosques? Aí não né? Que fique o Língua de Prata, ora.
Enfim, toda reforma traz um pouco de transtorno. Temos sim que ter a consciência de que todo esse trabalho está sendo realizado para a melhora do nosso bairro, porém é preciso que os órgãos da administração pública exerçam seus papéis na fiscalização dessas obras, para garantir a sua conclusão pelo menos no segundo prazo que já foi dado, afinal, o que era para o Verão já ficou para o São João. Pessoas perderam seus empregos, o trânsito está caótico na região, e até o busto de Dorival Caymmi sobrou nessa história.
Parafraseando nosso querido Raul Seixas: “confesso abestalhado que estou decepcionado”. Esperamos que pelo menos tudo volte ao normal.