De bem com a vida e com os chifres

Vergonha? Humilhação? Nada disso. Ser corno é motivo de orgulho. Pelos menos para os integrantes do Sindicato dos Cornos  (Sindicorno) e  as dezenas de pessoas que participaram do 3º Arrastão dos Cornos de Itapuã, promovido pela entidade.

E eles têm na ponta da língua o motivo de tanto orgulho dos chifres: “Ser corno é sinal de que tem mulher bonita e desejada. Só não é corno quem tem mulher feia ou não tem mulher”, explica Marivaldo Santos, 42 anos, o Val do Gás.

Ele mesmo diz já ter sido traído três vezes. “A primeira vez foi da mulher que morreu. A segunda da que eu me separei. E a terceira dessa que vive comigo hoje. Tanto que eu estou aqui e ela está por aí aumentando o tamanho dos meus chifres”. O negócio é sério. Todos os sindicalizados passam a ser membros da família Cornudo da Silva e a usar esse sobrenome – entre eles, claro.

“Jamais tive vergonha. O homem que toma corno é feliz. Leva chifre porque gosta de mulher. Ser corno não tira a honra do homem. Dá felicidade”, acredita o pedreiro Sandro José dos Santos, 40. Há três anos, a ex-mulher  o traiu com um primo dele. “Ele ficou com a mulher, a casa, os filhos, tudo!”.  Além do orgulho pelos chifres, eles  defendem que os cornudos jamais  ajam com violência diante de um chifre novo.

Os chifres do presidente

Tudo começou com a desilusão amorosa sofrida pelo atual presidente do Sindicorno,  Marcos Barbosa da Silva, 31. Há três anos,  a companheira dele fugiu com um primo e levou todos os móveis que eles haviam comprado seis meses antes. “Até o Totó ela levou. Quando  cheguei em casa e chamei Totó, só ouvi o eco”, contou ele, que ficou conhecido como ‘Corno Totó’. A partir daí, vieram as perturbações dos colegas e a ideia de fazer o baba dos cornos e, logo depois, o sindicato, em parceria com os amigos Valmir Santos, 45, o Careca, Ary Filho, 43, e outro de prenome Roberto.

Corno para amansar o amor

Homem só valoriza a mulher depois que ela faz dele um cornudo. É o que acredita a psicóloga Vanderlene Paixão Campos, 36. “Depois que toma o corno, ele não esquece. A mulher que quer ser inesquecível tem que botar corno”, aconselha. O marido dela, o funcionário público Jaber Campos, 43, assina em baixo. “Ela me traiu quando a gente ainda namorava. Mas só me contou depois que nosso filho nasceu. Se eu tivesse sabido antes, tinha casado logo”, afirmou ele, que garante nunca ter traído a mulher.

Casal corno, casal feliz

A professora Lucilene Maria Aragão, 46, e o jardineiro Gilson Santos de Jesus, 30, estão juntos há 12 anos e ontem, para fazer jus à condição de cada um, foram para o Arrastão dos Cornos. Há um mês, ela descobriu que o marido lhe traía e  pagou na mesma moeda. “Convidei um amigo antigo para sair e aconteceu. Fiz sentir na pele”, contou. “Fiquei sentido, mas perdoei. O melhor da vida é saber viver. Sou corno, sou feliz”, disse Gilson. “Nós não lembramos mais do passado. Vamos viver o futuro”, completou ele, antes de ser advertido pela mulher: “Se der, toma”.

Fonte: Jornal Massa

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