É comum ouvir reclamações de muitos professores sobre os desafios da sala de aula, dos salários que não acompanham o sacrifício, do desrespeito a que somos submetidos todos os dias, da falta de uma política que valorize a classe. São situações reais e só quem as vive pode, com autoridade, externar sua posição. Em meio a tudo isso, porém, há as delícias do ofício, quando as respostas do nosso trabalho chegam, não apenas nos discursos de fim de ano, mas no processo diário desses meninos e meninas que chegam para nós. Costume dizer que os resultados nem sempre serão imediatos, porque cada um tem seu ritmo e sua visão sobre a vida, todavia creio que a semente lançada sempre florescerá, de um modo ou de novo, no tempo presente ou nos anos que virão. Eu recebi uma mensagem de um aluno no dia da aula da saudade e quero compartilhá-la. Segue o texto:
“Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim tão diferente”,
cantou Cássia Eller e não imaginei o quão fiel estava sendo, escrevendo minha historia, a nossa historia, a história do 3ºI… Certo dia peguei um livro para ler e encontro nas palavras de Antoine Saint-Exupéry no livro O pequeno príncipe tais afirmações. “Se tu queres um amigo, cativa-me”. E continua em outro trecho dizendo. “Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo”.
E foi assim que, cativado pelo 3ºI, cada um tornou-se para mim, único no mundo. Ninguém faz palhaças como as de Caio, ninguém é tão doidinha como Taise, ninguém nada melhor do que Jaci, ninguém é tão exagerada como Maria, ninguém é mais lerda que Camila, nem charlona como Ivana. Nenhum professor é mestre como Gilmar, nem melhor tutora como Loraine. Cada um da forma que é, é único para mim e espero que tenha sido único na vida de cada um de vocês também.
“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa tudo sempre passará”. Lulu Santos traduz, de maneira simples e objetiva, todo nosso sentimento ao lembrar que nesse ano, cada um irá pra seu lado, buscar a faculdade que tanto almeja e assim vai… Cássia Eller cantaria novamente sua memorável musica.
“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber que o pra sempre, sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou”
As amizades que, durante esses três anos foram fortalecidas, a cada ajuda que o colega precisava, a cada abraço, que para alguns poderia ser um mero abraço, mas pra outros significava muito. Resenhas compartilhadas, trolagens feitas, enfim. Alguns podem não saber dessa historia que contarei, mas Gilmar, Maria e Jaci com certeza sabem. Estávamos na Barra para ver o pôr do sol, depois de andarmos do elevador Lacerda até La. Encontro o nosso grande mestre Gilmar e ali percebi o valor que eu devo dar aos meus amigos e aos momentos que com eles compartilhei. Desculpa lembrar esse fato professor. O senhor estava ali por um amigo, que tinha falecido e percebi a importância da amizade na vida de uma pessoa e como a ausência dela nos deixa sem chão, sem sustento, sem firmeza. Incrível é imaginar que até com a sua presença, encontrada pelo acaso, o senhor ensinou e me mostrou com simplicidade tudo que acabei de citar. E assim o professor Alvo Dumbledore, personagem da saga Harry Potter traz a seguinte frase. “Afinal, aquilo que amamos sempre será parte de nós.”
Sei que o que nos restará será a saudade, desse tempo de escola, de trabalhos, de resenha com os professores, de tudo, até de acordar cedo (OU NAO). E e assim fala o nosso grande mestre Gilmar em um dos seus textos. “Nunca deixaremos de sentir saudades, mas podemos senti-la sem o peso de não ter feito o que deveríamos (e poderíamos) fazer. A receita é simples e Renato Russo soube expressar isso cantando: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Então os alunos voltarão ao seu lugar de formação para matar a saudade, sem a dor de não ter sido o melhor colega, o melhor amigo, o melhor estudante. […] Os amigos se revisitarão com os mesmos sentimentos, convictos de que valeu a pena cada dia vivido, cada festa, cada passeio, todas as conversas, todos os segredos.” E hoje posso dizer as mesmas palavras de Vinicius de Moraes. “… a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais”.
As palavras desse texto fortalecem minha crença na Educação e no ser humano. Ainda temos salvação, ainda somos humanos. Ícaro Lomoeiro é um exemplo de tantos alunos que tiveram suas vidas marcadas por professores. Ele me confessou que foi lendo um dos meus textos aqui que sentiu o desejo de conhecer o clássico “O Pequeno Príncipe. Isso não tem preço!! Isso é a prova que mesmo com o silêncio de uma leitura, um gesto, um olhar nós podemos conquistar pessoas e fazê-las mudar a direção de suas vidas. O que Ícaro não sabe é a dimensão das marcas que ele, e muitos outros, deixaram em meu coração. O encontro não programado com ele, Jaci e Michaela (minhas joias) para ver o sol poente, em um dia triste para mim, foi também um momento de aprendizado para a vida. Eu tenho consciência que marquei, mas para além disso eu fui tocado. O texto que ele escreveu para mim na aula da saudade é a pura demonstração que estamos aqui com algo muito maior para fazer, além de cumprir com o nosso ofício.