Nos tempos de adolescência, lá para os meus 14, 15 anos, eu era um verdadeiro itapuãzeiro. Não que eu tenha deixado de ser… A paixão que eu tenho pelo meu bairro é fruto das minhas experiências que eu tive ao longo da minha juventude. Ainda mais nos anos dourados do meu tempo de moleque. Gozava de uma liberdade unica que me possibilitou vivenciar o que Itapuã tinha de melhor.
Sim, como todo adolescente eu era um desocupado. Pelo menos entre o horário que eu chegava das escola até o término do Dragonball Z, 15 horas da tarde. Depois disso, era só sair para a rua e me juntar aos amigos para abraçar o mundo mágico de Itapuã dos anos 90. Pelo menos até o horário da janta…
Guardo na memória momentos inesquecíveis. Muitas das lembranças estão relacionadas a o esporte mais atuante da comunidade de Itapuã: a capoeira. Fazia parte de um grupo, bem pertinho de casa. Frequentava os treinos regulamente e jogava nas abarrotadas rodas às sextas. Como todo e bom capoeirista orelha seca (menino novo, novato) treinar os golpes e as acrobacias eram fundamentais, não só para fazer bonito na roda, mas principalmente mostrar as suas habilidades para os amigos. Ficávamos maravilhados com a performasse dos capoeiristas mais experientes. As piruetas de nomes variados e os movimentos de chão estimulavam eu e os meus amigos a perguntarem para si mesmos:E por que não fazer igual?
E assim, com todo estímulo do mundo, nós os orelhas secas, saíamos empenhados para o treino das acrobacias. O praticante itapuãzeiro da capoeira, dispõe de vários lugares para treinar. Lógico… Tinha o quintal da casa e o espaço de treino do grupo, mas não era tão legal assim. Legal mesmo era treinar na imensidão da praia ou então nas areias do Abaeté. Por uma série de motivos: espaço de sobra, chão macio para amortecer a queda, vista privilegiada… Isso sem falar no banho refrescante, após o treinamento pesado.
Na praia, treinávamos frente a vila militar na maré vazante. Por vezes, íamos para as dunas entre Piatã e Placaford exercitar nossas acrobacias. No Abaeté, geralmente aos sábados pela manha, a brincadeira ou era feita na grama, próximo a calçada, ou então nas enormes dunas na beirada da lagoa. Era ali o local de treinamento dos grandes capoeiristas que subiam e desciam incansavelmente o paredão branco, para desafiar a gravidade com os seus saltos magníficos.
Feito os exercícios, nada melhor que nos refrescarmos tomando banho na lagoa. A água escura e de temperatura agradável, oferecia não somente descanso, mas também a possibilidade de brincar de Pitu. O Pitú é nada mais, nada menos do que um pega pega debaixo d’água. Bastante divertido. Mas o legal mesmo era brincar de Papai-Ajuda nas Dunas do Abaeté. Lembro que dezenas de capoeiristas se juntavam, subiam as dunas, e lá mesmo desafiavam os seus oponentes e o próprio corpo ao correr em meio a toda aquela imensidão de areia fofa.
Bem, escrever sobre o abaeté me faz sentir um grande pesar quando eu penso no seu estado de abandono. Fico muito feliz em ter vivenciado bons momentos no parque, quando ele estava novinho. Era magnífico a visão dos pássaros dançando para a lagoa no início da manhã. Tenho o sonho de ver os meus filhos brincando, pra lá e pra cá nas areias brancas, despreocupadamente. Tenho esperança de dias melhores. E você?