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15 de outubro é data comemorativa para os professores. Não uma data festiva, mas um dia simbólico de luta e conscientização política da classe, pela classe. Em todo o Brasil o momento não oferece condições para festas e banquetes, embora alguns, lamentavelmente, assim o façam. Mais lamentável é ver profissionais se rendendo aos ditames do sistema e se fartando do “Panis et circenses”, cuja política nada mais é do que deixar um grupo alienado com aquilo que lhe é oferecido. Carecemos de uma visão clarificada do ser professor e de uma unidade que não nos permita ser massa de manobra de um sistema que corrói a essência e compromete a qualidade da educação.
A condução do sistema de Educação em todo o território nacional é uma demonstração clara do descaso que se dá ao processo formativo na sua esfera sistemática. Das condições físicas dos espaços escolares ao salário dos professores, o que se vê é uma forma irresponsável de administração do dinheiro público, fruto dos impostos de cada cidadão. A classe docente, vista como irresponsável pelos desavisados sempre foi a palmatória do mundo. Sobre ela está a responsabilidade de conduzir o processo ensino-aprendizagem em condições degradantes. São salas destruídas, sem iluminação ou ventilação adequadas, com ausência de recursos básicos para o fazer pedagógico. Há os estudantes desrespeitosos, que enfrentam e derrubam a autoridade docente, inclusive com ameaças e agressões físicas e verbais. Tem-se os salários baixíssimos, o que obriga a classe a uma jornada dupla e, em muitos casos, tripla de trabalho. Vê-se descaso das famílias e incompetência de grande parte dos gestores para lidar com as questões de ordem comportamental, psicopedagógica e psicológica dos discentes, além das questões de ordem da saúde laboral. É muito fácil, sobretudo para os que jamais tiveram o desafio de entrar numa sala de aula com situações semelhantes a essas, criticar o docente, dando-lhe receitas e orientações de como fazer mais e melhor. Não conhecem a causa, não sofrem as angústias, não cultivam o sonho de uma educação que respeite seus atores e os promova ao status de protagonistas.
É muito cômodo para os que não conhecem a sala de aula, senão pelos livros da pedagogia, ditar as regras, dá os comandos, quando fazer é bem diferente. É fácil, também, para os legisladores, criar leis para a Educação o decidir rumos dos seus atores sem conhecer as mazelas que a caracterizam, sobretudo quando se fala de condições de trabalho, valorização e salário. Enquanto a educação não for prioridade e os professores devidamente pagos e respeitados, seremos uma nação em atraso, cheia de abismo entre as classes, tomada de violência e desordem, marcada pela corrupção e ausência de justiça.
Em 2010, os deputados homologaram o reajuste dos seus salários, que de R$16.512,00 foi para R$ 26.723,13, num aumento de 61,83%, enquanto que a determinação para o piso dos professores foi de 22,22%. Considere-se, ainda, que com apenas dois mandatos (oito anos de um pseudo trabalho) um político pode desfrutar de sua gorda aposentadoria, enquanto que o profissional do magistério tem que trabalhar, nas condições já apresentadas, por, no mínimo, 25 anos. Cada um, cônscio de sua responsabilidade política e social, é convidado a analisar quem é imoral e onde está a imoralidade.
O convite é para que o olhar seja ampliado para que se possa ler além do que foi escrito e que os pés pisem em outros lugares para que sensações outras sejam experimentadas. Parabéns aos professores, guerreiros, sempre. Não os parabéns pelo sacerdócio, como alguns insistem em proclamar, mas pela determinação em fazer o melhor, quando a realidade é um chamado para desistir. O louvor é para os que, mesmo em condições adversas, ainda conseguem ser bússola, ser modelo, ser inspiração para uma geração perdida em seu caminhar, necessitada de um norte. É para os que acreditam que podem fazer a diferença com um pedaço de giz nas mãos e que não se entregam à “morte” , ainda que sejam motivo de desrespeito, afronta e escárnio numa sociedade que mais valoriza o futebol e o samba do que o processo formativo.
Fica a ordem, na voz de Lecy Brandão: “Na sala de aula é que se forma o cidadão. Na sala de aula é que se forma uma nação. Na sala de aula não há idade nem cor. Por isso, aceite e respeite o meu professor” e mais um convite: “Batam palmas pra ele, batam palmas pra ele, batam palmas pra ele que ele merece”.