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Os craques de hoje já dão os seus primeiros passos calçando chuteiras de alta performance e pisando em gramados padrão FIFA. Por um lado, isso traz uma série de benefícios para esses meninos, uma vez que desde muito jovens atuam em condições semelhantes às encontradas pelos profissionais. Por outro, no entanto, essa profissionalização precoce traz também prejuízos para o esporte.
Até as ruas serem ocupadas por quantidades avassaladoras de carros e tomadas pela violência urbana, era comum pés descalços ou calçados com tênis velhos correrem no asfalto conduzindo bolas improvisadas com a mesma destreza daqueles que, mesmo antes de completarem a maioridade, recebem salários exorbitantes para exercerem o lúdico ofício de jogador de futebol.
Como que em uma viagem no tempo, crianças fizeram na Alameda das Roseiras em Itapuã o resgate de um clássico que andava sumido – o dois toques na rua. Para os menos familiarizados, nessa variação do futebol há apenas um goleiro e dois ou três jogadores compartilham o campo, e em cada lance os homens da linha não podem dar mais de dois toques na bola para chutar a gol ou passá-la ao companheiro.
Quem joga o dois toques desenvolve a habilidade e o raciocínio rápido. Mas, mais do que contribuir com a formação dos atletas o futebol de rua resgata um legado que vai além do esporte em si, afinal de contas, poder brincar na rua significa viver a vida com mais liberdade.
A infância no século XXI tem sido marcada pelo isolamento dos jogos eletrônicos e pela obesidade gerada pelo excesso de alimentos calóricos e falta de atividades ao ar livre. Por isso, essa brincadeira se enche de significado por resgatar uma infância que ficou no tempo em que as ruas eram mais seguras, menos movimentadas e os gritos de gol ressoavam mais do que as buzinas estridentes dos automóveis.