Desde a sua fundação a cidade do Salvador possui uma nítida divisão social. E o interessante disso é que a separação de classes veio acompanhada da situação geográfica da cidade, que divide a capital baiana em Cidade Alta e Cidade Baixa.
Separando e, ao mesmo tempo, unindo os extremos sociais e de altitudes estão as famosas ladeiras da cidade. A primeira inclinação deste tipo reconhecida em Salvador foi a Ladeira da Jequitaia, hoje mais conhecida como Ladeira da Água Brusca, que liga a Praça Jequitaia ao Santo Antônio Além do Carmo. A Ladeira da Fonte das Pedras, a Ladeira da Conceição, a Ladeira da Barra, a musicada por Gilberto Gil Ladeira da Preguiça, são mais alguns exemplos de ladeiras que guardam parte da nossa história.
Como um bairro genuinamente soteropolitano, Itapuã também não poderia deixar de ter os seus aclives, e a Ladeira do Abaeté é uma das principais referências do lugar. Caso essa ladeira falasse, é certo que teria infinitas histórias para contar, afinal de contas, é ela que dá acesso ao místico Parque do Abaeté e a outros cenários que já presenciaram uma série de fatos e outras tantas lendas.
No entanto, não só de ladeiras famosas vive Itapuã. Ali mesmo na região do Abaeté se encontra a menos famosa porém não menos íngreme Ladeira do Mirante, e muitas ruas do bairro são compostas por ladeiras que exigem preparo físico para completar o seu percurso. Na Rua da Graça, na Rua do Futuro, na Rua do Cabo Branco, na Rua Ilha da Maré, dentre outros logradouros que não cabem em uma só coluna, nos deparamos com subidas e descidas que representam a dicotomia sociogeográfica do nosso bairro e desafiam diariamente os moradores no ir e vir.
Essas ladeiras, ainda que não estejam nos livros de história ou nos versos da MPB, são tão importantes quanto as suas semelhantes famosas. Uma vez que elas também trazem consigo as pegadas daqueles que passam por ali, e são essas pegadas que de fato contam a História do Povo.