Do lado de fora, lixo e entulho espalhado pelo chão. Também é possível ver um ou outro morador de rua tirando um cochilo em cima de papelões improvisados. Na parte interna, o curioso que se aventura a desvendar o misterioso galpão abandonado na Rua Genebaldo Figueiredo, onde funcionava o Mercado Municipal de Itapuã, em Salvador, encontra um cenário ainda mais desolador. Além das moscas e do mau cheiro de fezes e urina, os antigos boxes, que eram utilizados pelos comerciantes, se transformaram em pontos para consumo de drogas e prostituição, conforme denunciou ao Cidadão Repórter o líder do conselho comunitário Zelito Guimarães.
Segundo ele, enquanto as obras de reconstrução do mercado, previstas em um projeto da prefeitura da cidade, não são iniciadas, o abandonado espaço, que teve o fornecimento de energia suspenso, também é alvo da ação de criminosos, sobretudo no período da noite, além de se transformar em esconderijo para assaltantes.
“Os assaltos são constantes, mesmo o mercado estando aos fundos da 12ª Delegacia Territorial (DT/Itapuã). E sem contar que madeiras, pias e outros objetos do local estão sendo roubados por marginais. A prefeitura deveria ter colocado um isolamento no local”, afirma o líder comunitário.
A dona de casa Marlene Dantas, de 61 anos, que mora em frente ao mercado, disse que o abandono do local é motivo de reclamação por parte dos vizinhos. “Tem gente morando aí dentro. O espaço tá servindo de sanitário e prostíbulo. E, à noite, os vizinhos não suportam a gritaria que ocorre aí dentro”, reclama. “O que a gente pede é que, se eles não vierem reformar logo o mercado, que venham fechar isso, porque não tem mais condições desse lugar continuar desse jeito”.
O mercado está abandonado desde que os 27 permissionários que trabalhavam no local foram obrigados a se retirar, há quase três semanas, após uma notificação expedida pela Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop).
A ação, segundo a secretária da pasta, Rosemma Maluf, se deu devido ao risco de desabamento da estrutura, conforme laudo técnico emitido, em fevereiro, pela Defesa Civil de Salvador (Codesal).
Reforma – Conforme o projeto da Prefeitura para reconstrução e ampliação do mercado, cujas obras devem começar em menos de 90 dias e serem finalizadas em um prazo de 18 meses, a nova estrutura, com área total de 2.275 metros quadrados, contará com três pavimentos, depósito, área de carga e descarga, banheiros sanitários e elevador, além de uma praça de alimentação, que contará com dez restaurantes.
Até a conclusão das obras, ficou definido pela Semop, em reunião com os permissionário, que os comerciantes seriam relocados para os mercados do Rio Vermelho, Água de Meninos e outros para a Feira de Itapuã, na Avenida Dorival Caymmi.
Em entrevista ao Jornal A TARDE, no último dia 19 de abril, a titular da Semop, Rosemma Maluf, disse que, embora a prefeitura não seja a responsável pela relocação dos lojistas, a questão seria debatida. “Nós temos preocupação social e não vamos deixar essas pessoas na mão. Já fizemos três reuniões com os permissionários sobre o projeto e para discutir essa questão, afirmou.
No entanto, conforme Zelito Guimarães, muitos comerciantes ainda estão sem local para trabalhar. “A secretária disse que em 90 dias iria montar uma estrutura provisória para levar o pessoal que estava trabalhando no mercado, mas até agora nada foi feito. A única coisa que fizeram foi tirar o sustento de pessoas pobre e analfabetas, o que é uma falta de responsabilidade, e de deixar o mercado nesse estado”, reclama o líder comunitário.
A alternativa encontrada pela comerciante Marlene Bezerra, 62, que trabalhava em um dos boxes do mercado há 20 anos, foi alugar um ponto nas proximidades do local para continuar a vender carne do sol. “Disseram que seríamos relocados para a feira nova, mas não fizeram nada por nós. No mercado, eu pagava cerca de 200 reais e agora tenho que pagar mais de 2 mil de aluguel. Além de carne, passei a vender cerveja para arcar com os custos”, conta.
Conforme projeto, nova estrutura terá área total de 2.275 m² e contará com três pavimentos (Foto: Divulgação)
Semop – Contatada pela equipe de reportagem, Semop informou, por meio da assessoria de comunicação, que está aguardando finalização do projeto definitivo para iniciar as obras e está adotando todas as providências para que o mais rápido possível seja efetuada a demolição ou tapumação do local. Entretanto o órgão não informou quando o projeto deve ser finalizado e nem quando a área será demolida.
Com relação à relocação dos comerciantes, a Sempo disse que “Dos 27 permissionários, 5 tomaram a decisão de por conta própria e conseguirem locais para trabalhar. Os demais 22 estão aguardando construção dos novos boxes no Núcleo de Abastecimento, Comércios e Serviços de Itapuã, que fica na Av. Dorival Caymmi”.
“Sobre segurança, foi acordado com os permissionários que eles deveriam permanecer com a vigilância à noite até que área seja demolida ou tapumada”, informou o órgão. A Semop não respondeu por que a área não foi isolada após a retirada dos comerciantes para evitar a entrada de usuários de drogas e criminosos.
Precariedade – O projeto da prefeitura para reconstrução do mercado veio após 23 anos da última reforma total do espaço. Com 27 boxes, o mercado operava escorado por vigas provisórias, sem contar a fiação elétrica improvisada, com risco de curto-circuito. Além disso, as hastes metálicas sofrem com a oxidação provocada pelo salitre, e as peças de concreto pré-moldado apresentam deterioração – o que demostra o desgaste da estrutura.
Em fevereiro desse ano, parte da laje do mercado desabou, deixando quatro pessoas feridas. A laje cobria o Bar e Restaurante A e B. Representantes da Defesa Civil constataram que o box 8, onde estava localizado o bar, não tinha condições de funcionar, pois apresentava rachaduras, ferragens expostas e infiltrações. Por conta do acidente, o local chegou a ser interditado, mas foi reaberto uma semana depois.
Fonte: A Tarde Online