Há um movimento grande nas escolas de todo o Brasil para combater o bullying. O termo é recente, mas sua prática, suponho, atravessa séculos. É claro que algumas propostas são como que água com açúcar ou analgésicos, cuja função é atuar no incômodo, mas se chega à raiz. O que intriga é como essa prática atravessa o âmbito escolar e chega aos ambientes profissionais sem que atitudes sejam tomadas. Como o espaço é movido por outra dinâmica e os interesses vão desde a sobrevivência até a realização de sonhos, o silêncio do sofredor é bem maior e mais demorado. Incrivelmente é possível encontrar atitudes de agressão, desprezíveis entre os meninos, em locais tomados apenas de adultos.
Negros, mulheres, homossexuais, evangélicos, espíritas, gordos, magros, todos entram na lista. Poderíamos encerrá-la aqui, mas soma-se a estes grupo o profissional que ganha destaque por algo que tenha feito e que tenha despertado a atenção e louvor dos gestores em seu espaço profissional. As piadas, o isolamento, as indiretas ditas elegantemente em fóruns, as ameaças veladas são uma realidade dos que, à semelhança dos meninos na escola, vivem a triste realidade de ser “diferente”.
Élisabeth Rousset, a famosa Bola de Sebo, pode servir como exemplo de adultos molestados. A personagem do grande Guy de Maupassant sofreu os horrores da discriminação e do bullying, quer seja no aspecto físico, quer seja no psicológico. O convívio de alguns dias com pessoas que, na teoria, sabiam lidar com outros seres humanos, testificou que o homem, independente da classe ou posição, pode ser cruel, impiedoso, aproveitador. A história chama a atenção para arrogância, falsa santidade, orgulho, presunção e interesses de que se valem os homens na tentativa de querer mostrar que é superior ao outro.
É difícil compreender porque o ser humano precisa humilhar ou desprezar o seu próximo para se sentir bem. Estranho como alguém consegue olhar para o seu semelhante como um inimigo a ser derrotado, sempre. Curioso como essas mesmas pessoas se olham como corretas, justas, dignas de ablação divina. Penso que lhes falta ler o conselho dado à Laodiceia e uma breve visita a um velório ou mesmo um cemitério: somos pó, dele viemos e para ele havemos de voltar. Isso seria o bastante para pensarmos cada vez que a natureza perversa queira se alimentar do fracasso alheio. “Bola de Sebo” foi escrito em 1880 e é lamentável que tantos anos depois, encontremos a mesma postura nas pessoas, cuja essência tem sido marcada por palavras e atitudes tão desprezíveis, tão desumanas, tão assustadoras. Rousseau disse que é a sociedade quem corrompe o homem, mas eu creio que é possível que este homem seja o agente purificador do espaço que ele ocupa. Escrevendo aos Coríntios, Paulo os aconselhou e eu penso que nos serve como guia: “No que depender de vocês, tenham paz com todos os homens”.
KIA KAHA