Não causou nenhuma surpresa a notícia de que o metrô não estará pronto em 2014, como alardeavam alguns políticos. A certeza de que o projeto – trunfo de campanhas para eleição e reeleição – não vingaria tão cedo, sempre esteve presente entre os soteropolitanos. O governo comemora as conquistas do novo acordo, mas não se pode dizer o mesmo da população, que vive às margens de uma organização política que privilegia os mais abastados e só amplia o abismo que separa as classes. Não se pode dizer que o trabalhador comemorará esses acordos e se deleite com a ideia de ter que esperar mais três anos e permanecer horas em um ponto de ônibus à espera de uma condução. Ele sabe que, além da espera, terá que suportar o dissabor de disputar o espaço com o vento na tão desejada carroça e que, considerando a precária mobilidade urbana, chegará em sua residência três ou quatro horas depois de ter saído do seu local de trabalho e/ou estudo. Não há o que comemorar!
Lamentável como Salvador foi enganada por 03 gestões durante 13 anos, num projeto que já custou aos cofres públicos mais de R$ 1 bilhão. Mais lamentável é ver a primeira capital do Brasil com um sistema de transporte público tão envelhecido, caótico, sucateado e vendido a interesses políticos e econômicos. É vergonhoso que uma cidade como a nossa não consiga oferecer o retorno aos seus contribuintes com aquilo a que eles tem direito. Carecemos de uma revolução, cujo objetivo seja uma mudança radical na forma como se administram os serviços de transporte público no Estado e uma oferta de condições dignas de ir e vir.
Por isso lançamos olhares de aprovação para as manifestações que acontecem na cidade em outras partes do país. Elas só trazem à tona a triste realidade do sistema de transporte público no país que se arrasta desde seu nascimento, bem como a indignação de um povo que sempre foi posto em último lugar nos planos de quem governa. Não à toa, o Rio de Janeiro conheceu a Revolta do Vintém (1880) e a Revolta das Barcas (1959) e Salvador se viu envolvida na Revolta do Buzu (2003), que parou a cidade por 10 dias. Não foi à toa, também, que um mar de gente tomou as ruas do Brasil nos últimos meses, reivindicando mudanças. Todas elas serviram para mostrar ao poder público que ele não pode enganar seus cidadãos, oferecendo-lhes migalhas e que o povo quer respostas claras, óbvias e ações que atendem às suas necessidades básicas.
Se os políticos fossem obrigados a usar o seu próprio meio de locomoção ou recebessem um Salvador Card, entenderiam o que nós falamos todos os dias. Precisamos de uma lei que os obrigue a usar os meios de transportes que nós usamos. A lei que rege essa questão em Londres deveria ser um modelo aqui. Na capital londrina, ao contrário dos municípios brasileiros, prefeito e vereador não recebem carro oficial ao ocupar um cargo e sim vales- transportes. E não adianta pegar taxi e pedir reembolso: isso só acontece se provada a necessidade do uso daquele meio de transporte. No dia que isso acontecer aqui, então os nossos representantes políticos terão pressa em oferecer um serviço de qualidade aos cidadãos, honrando os altos e vários impostos pagos por pessoas trabalhadoras, honestas.
Kia kaha!