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Esta é Salvador. Inspiração de Jorge Amado, Caymmi, Vinícius de Morais e de tantos outros artistas que se contagiaram com os encantos de uma terra mágica por natureza. Uma cidade repleta de belezas, seja em suas praias, seja nas pessoas, seja na nossa cultura. De tantas outras cidades não existe uma tão cordial quanto Salvador. Infelizmente, este é o bom lado da cidade. Lado este que oculta uma realidade extremamente desumana e desigual.
Existe um mundo escondido na capital baiana em que a violência e a criminalidade reinam soberana perante o medo e a desesperança de muitos moradores. Estamos falando do mundo dos guetos. Das favelas. Dos altos e das baixadas. Lugares estes presentes, mas tão esquecidos por todos nós. Esse grande mundo está presente em cada canto dos nossos bairros, mas que vivem escondidos aos nossos olhos que olha sem perceber. Seria esse mundo as verdadeiras “cidades invisíveis”?
Este grande reino distorcido pelos meios de comunicação sofre com dois tipos de violência. A primeira á a força motriz do estado decadente das nossas grandes favelas. Força esta que abala, sobretudo com a alto-estima de seus jovens. Estamos falando da perversa violência da desigualdade social. Uma desigualdade que nos tortura todos os dias na mídia com suas ilusões de um mundo perfeito e materialista ao alcance de todos. Mundo este, infelizmente, inacessível para a maioria.
Com o abalo da autoestima e o desejo de alcançar a utopia materialista dos ricos, cabe aos mais pobres o incansável sonho de ser alguém. Mas como fazer isso sem uma educação digna, com pouca assistência do governo e famílias desestruturadas? Quem sabe daí surja à segunda forma de violência. Esta – com certeza – consequência da primeira.
Temos em mãos, portanto, um indivíduo sonhador, revoltado e com a autoestima baixa. Com poucas soluções e sem dá importância a um sistema que faz daquele indivíduo apenas um número estatístico, torna-se tentador o mundo das drogas, do tráfico e da criminalidade. Pelas drogas, busca-se uma válvula de escape de sua condição decadente. Pelo tráfico, busca-se o sonho de dias melhores. E o crime… Talvez o crime seja uma forma de protesto. Talvez seja uma reação a cada pancada que a vida lhe dá todos os dias.