Há cento e nove anos atrás uma senhora conhecida como dona Niçu, sentindo-se agraciada pela vida e reconhecendo a valorização da Fé, homenageou Nossa Senhora da Conceição de Itapuã e a Rainha do Mar, Yemanjá, lavando as escadarias da Igreja da padroeira local no então ponto de veraneio baiano. E assim, num gesto de puro reconhecimento e Fé nasceu uma das festas populares mais tradicionais do estado da Bahia: a Lavagem de Itapuã. Que marca a contagem regressiva para o carnaval.
Após a primeira homenagem, o gesto passou a ser repetido anualmente sempre uma semana antes da quinta-feira de carnaval, e desde a sua origem até o terço final do século XX, a lavagem foi venerada pelo clima festivo e passivo do evento. Havia nos participantes – na sua grande maioria moradores de Itapuã – um espírito de confraternização, onde não cabia qualquer forma de violência.
Porém, o crescimento do bairro – que infelizmente acompanhou o aumento da desigualdade social soteropolitana – fez com que a festa fosse mudando de cara até se tornar um acontecimento temido por muitos. A ponto de se cogitar a sua não realização, e a cada edição surgirem notícias bombásticas que manchavam a imagem de Itapuã e limavam a tradição das festas de largo.
A 109º edição da Lavagem de Itapuã, no entanto, foi marcada pelo clima de paz e resgate da sua essência. As pessoas acompanharam os lados sagrado e profano do festejo sem o medo que rondava a lavagem nos últimos anos e curtiram o momento sem maiores preocupações.
Não houve muitos registros de ocorrências policiais e a imprensa sensacionalista não teve material para veicular. O que foi ótimo para ajudar a desfazer a imagem deturpada que muitos ainda têm desse bairro e resgatar o real significado desse histórico festejo.