A conquista do tetra em 1994 após vinte e quatro anos de jejum aflorou um sentimento que andava meio adormecido no brasileiro. O suado título conquistado por Romário e Cia foi o impulso que faltava para o brasileiro voltar a reconhecer o seu país como a pátria do futebol.
De lá pra cá a seleção já chegou a outras duas finais conquistando mais um título. Desempenho bastante satisfatório levando-se em consideração o alto nível competitivo em que se encontra o esporte.
O nacionalismo, que aflora a cada quatro anos, leva o brasileiro a colorir as ruas do país de verde e amarelo e enfeitar as fachadas das casas com todo o apreço que o evento merece. Ainda que essa atitude seja vista por muitos como um ato puramente ufanista, que encobre as mazelas sociais do país, é bonito ver o entusiasmo e a integração que a Copa provoca no povo.
A dois dias do ponta pé inicial da Mundial, no entanto, poucas são as casas pintadas em verde e amarelo, ruas enfeitadas e os rostos dos nossos craques grafitados pelos muros. Olhando a paisagem parece que a Copa ainda está bem longe e que o Brasil sequer conseguiu a classificação.
Certamente essa frieza está relacionada ao lado sombrio do Mundial no nosso país. Superfaturamento, estádios mal acabados, imposições abusivas da FIFA e declarações escandalosas dos gestores do evento têm machucado a fé do brasileiro no futebol, a ponto deste não se sentir motivado para uma Copa no seu próprio país.
A TV por sua vez, numa tentativa um tanto quanto frustrada de suprir a falta de empolgação popular, tem insistido nas campanhas que valorizam o povo. Como se cidadãos comuns cantando as suas próprias versões da vinheta fosse convocar o povo. Difícil crer nessa possibilidade.
Uma estréia vitoriosa do Brasil no próximo dia 12 talvez mude este cenário, mas o que se vê até o momento é um misto de indignação com falta de paixão e, como frisou o escritor José Sebastião Witter, “futebol sem paixão do torcedor não existe”.