Comumente somos tomados de sentimentos nostálgicos ou de ansiedade. Sejam quais forem eles, somos levados a esquecer o presente e viver uma época que já passou ou apenas sonhar com uma possibilidade de algo acontecer. Daí que a cada dia a sensação de saudade, tristeza e, por vezes, angústia tem marcado nossa existência com tanta força, porque não aprendemos a valorizar o que temos e somos agora. Lulu Santos já nos havia advertido: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará”. O tempo presente é a uma grande dádiva concedida por Deus aos homens, mas eles insistem em chorar o passado e sonhar o futuro e não conseguem desfrutar as coisas e as pessoas que lhes cercam.
Pode-se perceber isso muito claramente nos estudantes, que não param de reclamar dos colegas, da sala, da escola, dos professores e que, anos depois, voltam ao mesmo lugar para rever o ambiente e as pessoas que fizeram parte de sua história. Alguns lamentam não por não ter absorvido mais dos momentos a eles concedidos e afirmam que se lhes fosse dada outra oportunidade teriam aproveitado mais o tempo e as pessoas. É a mesma situação dos filhos, desejosos pela maior idade, pela independência financeira, pelas conquistas profissionais, pelo casamento. Tudo conquistado e as lembranças, vez por outra, tomam conta do coração, acusando-os de não terem aproveitado mais a presença, o cuidado, as cobranças e ordens dos pais ou mesmo os momentos de lazer (e aborrecimentos) com os irmãos. São assim os amigos, que em grande parte se reúnem para reclamar da vida, para planejar e sonhar e não aproveitam a presença um do outro, para rir do nada, para ver o astro rei entrando em seu descanso, para tomar banho na praia em dias de chuva. Vê-se isso também nos pais, que correm o tempo todo para garantir o futuro dos filhos, mas não reservam tempo para se fazer criança e aproveitar o momento quando pode ser o seu herói, a companhia mais agradável, a pessoa necessária.
O tempo passa e as crianças, agora adultas, não poderão reviver os momentos, senão nas lembranças despertadas na mente, no rever as fotos, os arquivos, relendo cartinhas, e-mails, bilhetes. E é ai que a nostalgia se instala e o coração, apertado, lamenta não ter aproveitado mais os momentos com as pessoas que, somente agora percebemos, eram especiais. Os amigos casam, tornam-se pais, vão morar fora do país, de forma que o tempo já não permite os encontros, tão comuns na época da meninice, da adolescência. Os pais envelhecem e as forças lhes são roubadas, o que os impede de realizarem, agora, o que gostariam e poderiam em outras circunstâncias. Não podemos esquecer dos sofridos momentos de separação, quando a morte leva de nós essas pessoas queridas. Nesses momentos somos chamados a acompanhar os Titãs e cantarolar “Epitáfio”, a canção que denuncia o que é e o que poderia ter sido.
Nunca deixaremos de sentir saudades, mas podemos senti-la sem o peso de não ter feito o que deveríamos (e poderíamos) fazer. A receita é simples e Renato Russo soube expressar isso cantando: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Então os alunos voltarão ao seu lugar de formação para matar a saudade, sem a dor de não ter sido o melhor colega, o melhor amigo, o melhor estudante. Os filhos poderão visitar seus pais, ou lembrar deles, com a mesma alegria dos que sabem que fizeram o que teria que ser feito e que aproveitaram sabiamente cada momento oportunizado. Os amigos se revisitarão com os mesmos sentimentos, convictos de que valeu a pena cada dia vivido, cada festa, cada passeio, todas as conversas, todos os segredos.
Para os que estão presos ao passado, lamentando o que se foi (e como se foi) ou apenas grudados no futuro (incerto para todos nós) vale um conselho do mestre Vinícius de Moraes: “… a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais”.
KIA KAHA!